quarta-feira, 5 de setembro de 2012

JOÃO NINGUÉM x ZÉ MANÉ x CIDADÃO


Senhor vereador, eleito com a contribuição do meu esquecido voto, meu nome é João Ninguém, sou brasileiro, desempregado, analfabeto, mas tenho título de eleitor. Sou pobre, miserável e  pouca importa se sou casado ou tenho uma casa pra morar, tenho vários filhos, fruto de minha ignorância social, todos eles não freqüentam a escola e perambulam pela rua. Alguns desses filhos ficam malandreando por não ter opções, seja no lazer ou no esporte ou por não existir qualquer projeto social que possam orientá-los. Os outros filhos ficam vagando, se prostituindo ou pedindo dinheiro para se drogar. Não entendo nada de política, muito menos o que vocês falam no palanque e na tribuna, mas percebo que nunca põem em prática o que prometem. Na verdade a única coisa que me importa é o quanto vou ganhar a cada 2 em 2 anos no período político, pois é quando posso me sentir importante, porque é nessa época que todos me tratam bem, me cumprimentam na rua, querem saber como vai minha família e aparentemente se sensibilizam com a minha condição.
 
 Dessa forma acho que não sou idiota. Para que vale mesmo um simples voto, pois tudo sempre acaba da mesma forma, e eu, ora bolas? Eu, sempre lucro um dinheirinho, ou então ganho um tijolinho, com muita sorte ganho o dinheirinho, o tijolinho e a cesta básica. Sabe o que eu não entendo? No começo da campanha todos estão juntos, abraçados e dividindo o mesmo pensamento político, depois o todo poderoso prefeito “fecha a torneira”, pensa que não depende de ninguém, que não sou eu, e passa a ser celebridade, olha que ele nem ganhou o um milhão do Big brother! E assim tudo muda, esquece que estavam juntos, nem se olham, as ofensas acontecem, as cobranças finalmente aparecem e a dúvida volta: Até quando, a máscara caiu?
Nobre vereador, que orgulho ter voltado em você; é o melhor vereador atuante na tribuna! Meu nome é Zé Mané de Sempre, nem sou tão brasileiro, quero saber o que vou ganhar com isso, o que me importa é estar “por cima da carne seca”, lembra o quanto fiz campanha pra você? Eu sabia que conseguiria se eleger, precisamos trabalhar para a sua reeleição! Tome cuidado com os boatos da rua, a sociedade é invejosa, qualquer um quer o seu lugar, aparecerão vários “traíras” afirmando ter votado em você só pra se beneficiar.
 
 Quem será o presidente da Câmara? Você não pode ficar de fora! Quais os benefícios e o salário de vereador? Você precisa ser inteligente, não pode brigar abertamente com o prefeito, porque ele é popular, tem uma boa aceitação e aprovação. Infelizmente o povo estava sofrido e amedrontado com as desastrosas administrações passadas e se contenta com o essencial, ou seja, ter seu salário pago em dia. Entretanto não deixe de criticá-lo também, pois algumas camadas sociais percebem o descaso e a ilusão de uma suposta “boa administração”, pois afinal de contas, nem todo mundo é João Ninguém e nem besta! Poxa meu caro vereador, às vezes, mas só às vezes, eu penso que você deveria ser coerente, por em prática seu discurso de honestidade já que percebeu que a administração não é lá essas coisas todas, que o prefeito não é compromissado com o povo e seus anseios, principalmente porque você poderia ser o futuro prefeito. Já imaginou? Viu o quanto sou inteligente?! Sei de tudo que acontece, tô vendo tudo, mas é melhor ser cego, surdo e mudo!     
Ilustríssimo Senhor vereador, eleito pelo povo, para o exercício 2008-2012 de seu mandato, eu Cidadão Itajuipense, brasileiro, solteiro, residente e domiciliado nesta linda comarca, a qual tenho apreço e amor eterno, venho através desta, manifestar o quanto me entristece ver a minha cidade querida abandonada, testemunhar a degradação dos jovens diante das drogas, face a inércia do governante, o qual conseguiu mudar todas as características inerentes a esta terra anteriormente conhecida e respeitada no âmbito esportivo. Cidade que ficou conhecida ocupando uma posição de destaque no turismo baiano devido as suas festas e datas comemorativas tradicionais.
 
Eu faço parte de 10% dos munícipes, percentual que a cada ano tem a tendência a diminuir, pois a educação municipal é uma vergonha, a saúde é uma piada e a administração apenas é eficiente para apenas um grupo, o qual encontra-se com situação financeira equilibrada contrastando com a atual realidade da maioria. Queria falar que há muito tempo me encontrava calado, observando, percebendo e me indignando com a acomodação popular. Contudo jamais deixei de pensar, pois afinal faço parte da camada formadora de opinião, mas que opinião? Sempre estive de “mãos atadas”, pois sou pouco, na verdade não ameaço o cargo nem a soberania do executivo, minhas solicitações jamais serão ouvidas, minha visão política é uma utopia, pois caso se esqueça, ele é o todo poderoso.
 
Sabe vereador, eu não votei em você, mesmo assim acompanho sua atuação, me encho de esperança com seu posicionamento atual, me iludo com cada pronunciamento das assembléias realizadas nas quintas-feiras, tento acreditar que agora vai, que as coisas vão melhorar, que o povo terá acesso aos seus direitos e as verdades de seu município, mas diante de um histórico cultural e hereditário do nosso sangue, acabo receoso com dramaturgia final dessa peça teatral. O que posso pedir e acreditar, é que, no momento das decisões não leve em consideração o povo, pois estamos cansados desse motivo que na verdade jamais foi levado em conta, considere seus princípios, seus filhos, seus pais, enfim... seu caráter familiar, sua formação como ser humano, que honre seu mandato, levando em apreço o porquê de sua função e a conseqüência de suas decisões para tantas outras vidas. Fique sereno consigo mesmo, coloque sua cabeça tranquilamente no travesseiro e durma. Acima de tudo olhe para seus familiares de cabeça erguida.
Perguntaram ao Dalai Lama: “O que mais te surpreende na humanidade?”
E ele respondeu: “Os homens... porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde e a dignidade, pois pensam ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro... e morrem como se nunca tivessem vivido”.
Por: João Paulo Santana Silva
Advogado OAB/BA 25.158
 Artigo públicado em 2010.